Já gostava de Sam Mendes dos ótimos American Beauty, 1999, onde nada é o que parece ser, Road to Perdition (2002), uma bela adaptação da graphic novel com o mesmo nome, Skyfall (2012) e Spectre (2015) que, juntos, fazem uma releitura de James Bond.
1917, seu mais recente filme, é excepcional. A estética do filme é tão boa que nos transporta para um vídeo game ambientado na primeira guerra mundial. Mas as analogias com um jogo param por aí.
A atuação esmerada do elenco, figurinos, efeitos especiais e a engenhosidade do roteiro (que lembra o Saving Private Ryan, 1998 de Steven Spielberg) nos conduzem ao lado mais sombrio de qualquer guerra: a estupidez humana. Seja através dos corpos empilhados no chão, das cidades destruídas ou da ausência de explicações sobre os motivos das batalhas nada expõe com mais veracidade essa estupidez.
A câmera, com destreza e firmeza, acompanha o personagem principal, o jovem ator George Mackay, atravessando incríveis cenários de combate, tirando o fôlego do telespectador e fazendo uma homenagem ao gênio Hitchcock (mesmo que não queira), que realizou a primeira filmagem em uma única longa sequência (já visto aqui no DeC e na verdade, a tecnologia da época não permitiu, sendo filmado em dez planos sequência).
Aqui cabem também referências a Brian de Palma (em Snake Eyes, 1998) e El Secreto de sus Ojos, 2009, do argentino Juan José Campanella, com sua antológica cena sem cortes no estádio Tomás Adolfo Ducó (do Huracán), imperdível para os amantes do futebol.
1917 não retrata só a inutilidade do ódio presente nas batalhas do século XX. É sobre bravura, companheirismo, vida e morte. Uma reflexão cruel para a ausência de sentido de uma guerra e uma ode à amizade e à lealdade.
Por Marcelo Beckhausen1Marcelo Beckhausen é Procurador Regional da República na PRR4, professor de Direito Constitucional na Unisinos e colaborador do DeC.