O Franco Atirador (The Deer Hunter, 1978)

Por três horas se tem contato com dois mundos: uma pequena cidade da Pensilvânia e a guerra da Vietnã.

É acusado de falhar flagrantemente ao não traduzir a catástrofe que foi a derrota norte-americana e a selvageria praticada pelos Estados Unidos (expostas com vigor por Coppola e Stone),bem como de reproduzir o povo vietnamita de forma artificial e superficial. Mas tem êxito em mostrar, pela primeira vez, a dor e o sofrimento dos soldados quando retornam, suas doenças físicas e psíquicas.

O Franco Atirador (The Deer Hunter, 1978), dirigido pelo oscarizado Michael Cimino e interpretado pelos consagrados Robert De Niro, John Cazale, John Savage, Christopher Walken e Meryl Streep, leva o espectador a ingressar no cenário patriótico pré-derrota, mas mostra com alguns detalhes a agressividade introjetada (a cena do soco no casamento ou de Streep apanhando do próprio pai) e a ligação neurótica com as armas (seja nas cenas de caça ou no revólver permanente na cintura do personagem de Cazale), no país que, semanalmente, noticia mortes coletivas por algum psicopata.

Esse talvez seja o gancho para entender as celebrizadas roletas russas do filme, em jogos e competições, e como os americanos, em trechos de extrema e explícita violência, se viciam e como o azar controla os destinos de todos os participantes.

Talvez aí, nesse espelhamento entre violências que resida a crítica de Cimino, provavelmente tocando num tema ainda não cicatrizado (1978), driblando uma censura baseada no orgulho e nas narrativas políticas dos perdedores.

A ideia de um jogo de azar balizando os comportamentos, a irracionalidade e religiosidade do sangue (vinho) no vestido de casamento ou do fenômeno solar para preparar a caça, são como o diretor expõe a irracionalidade da guerra.

O filme vale a pena também pelas brilhantes atuações, com Streep e de Niro pontuando, mas também pelo valor histórico, primeiro drama a tratar abertamente do Vietnã (já que o genial Apocalipse Now começou a ser filmado em 1976 e terminou somente em 1979).

Enfim, um filme oscarizado, controverso e indispensável para qualquer cinéfilo.

Há uma boa crítica do filme no coquetel kuleshov.

Para alugar no Google Play.

Por Marcelo BeckhausenMarcelo Beckhausen é Procurador Regional da República na PRR4, professor de Direito Constitucional na Unisinos e colaborador do DeC.