Fim de maio e novamente temos o nosso book haul.
Não necessariamente indicações, mas livros que entendemos que merecem estar em nossa biblioteca pessoal.
Do maior para o menor:
1) Noise – O livro dos musos Kahneman, Sunstein e Sibony estava sendo aguardado desde o ano passado. Traz o conceito de “barulho”, que, juntamente com vieses, pode interferir em processos de decisões.
2) Direito e Políticas de Saúde – Livro do também muso Daniel Wang. A obra reúne vários artigos, que inauguraram uma nova forma de enxergar a judicialização da saúde e o SUS. Sempre corajoso e cuidando para não se ver preso a seus vieses, Daniel merece ser lido sempre.
3) A Resistência- A escrita de Julián Fuks sempre me emociona. O livro ganhou o prêmio Jabuti 2016 e é o primeiro que compro dele.
Mês que vem trarei só musas, prometo.
O livro do Virgílio Afonso da Silva eu comprei neste mês porque acho que é um dos maiores constitucionalistas brasileiros da atualidade, porque eu precisava aumentar e atualizar minha biblioteca de Direito Constitucional e porque o encontrei por um preço imperdível na internet.
Já o livro do Lima Barreto eu fui buscar no fundo do armário da casa de meus pais para surfar na onda das releituras de clássicos da literatura nacional (aqueles que não entendemos quase nada quando lemos na adolescência por imposição dos professores).
Escolhi “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” porque – além do estilo de escrita do autor, sempre objetivo, cheio de ironias e sarcasmos, que eu adoro – a obra faz uma análise social crítica que sempre desperta o meu interesse. Neste livro, Lima Barreto narra a trajetória de um jovem simples, que cresceu no sítio, ainda assim estudou muito e, por isso, sentiu-se confiante para fazer uma faculdade e ganhar vida no Rio de Janeiro do início do século XX. Todos os sonhos esvaíram-se logo após o rapaz chegar à cidade grande e se deparar com a realidade política, social e cultural carioca. No final das contas, Isaías Caminha passa por sérios apuros, custa a encontrar um trabalho modesto em um grande jornal da cidade e, com base em sua experiência de vida e de trabalho, tece ácidas críticas à sociedade e à forma de atuação da imprensa então existente.
Sempre a mesma neve e sempre o mesmo tio de Herta Müller. A escritora alemã, nascida na Romênia, premiada com o Nobel em 2009, em seus relatos relembra as condições de vida na Roménia sob o regime de Nicolau Ceausescu e a presença de uma polícia política implacável, a Securitate.
Só a história dos pais de Herta já seria suficiente, o pai ingressou voluntariamente na SS nazista e sua mãe foi deportada para um campo de trabalhos forçados da União Soviética por cinco anos. Mas se revelam no texto as lições de que nos regimes antidemocráticos a política é feita não somente pelos convictos, mas pelos subservientes. Todos aqueles que não se viram contra esse tipo de política são parte dela.
E uma das coisas que chamam a atenção são os títulos de alguns de seus livros: “O homem é um grande faisão no mundo”, “O rei se inclina e mata”, “Minha pátria era um caroço de maçã”.
Duas leituras para um processo a ser julgado futuramente, o primeiro mais para releitura.
O livro do Singh é uma delícia de divulgação científica, e apresenta conceitos e história da medicina baseada em evidências com uma riqueza de detalhes e episódios que marcaram a racionalização da medicina. Histórias como a da lendária enfermeira Florence Nightingale, que por meio de medidas de controle sanitário de hospitais militares, estatísticas e inovadores powerpoints da época (os gráficos pizza que desenvolveu) reduziu a mortalidade de soldados internados de 43% para 2%.
A coletânea organizada por Pozen reúne artigos produzidos sobre novos desafios da liberdade de opinião. Para despertar o interesse de vocês, apenas uma referência ao divertido artigo do Tim Wu intitulado “A 1a emenda estaria obsoleta?”: ele relata que o governo chinês evita a censura à moda antiga, utilizando em seu lugar técnicas para desviar a atenção do público de ideias desconfortáveis para o regime. Os chineses evitariam assim o “efeito Streisand”, uma homenagem à infame tentativa da atriz Barbra Streisand de proibir a divulgação de fotos de sua casa, e que no fim atraiu muito mais interesse pelo material dos paparazzi.
Ilustração do post Inge Löök