Abril começa com o dia da mentira e termina com nosso book haul.
Não necessariamente indicações, mas livros que entendemos que merecem estar em nossa biblioteca pessoal.
Quincas Borba
Depois de quase 30 anos, voltei a ler Machado de Assis. Lembro de ter lido na escola e achado muito chato, o que fez com que eu apagasse o autor do meu mundo literário. Por sorte, venci o ranço e pude me divertir e aprender com as suas obras. Isso me faz pensar se deveríamos obrigar os jovens a ler os clássicos. Vamos ver se encaro agora o Aluísio Azevedo.
Humanidade – uma história otimista do homem
Comprei por indicação de uma amiga. Aproveitando o fenômeno Yuval Harari, os editores colocaram uma indicação dele na capa também. Trata do tema da evolução da humanidade. A conclusão é de que estamos evoluindo. Apesar de eu achar que a evolução não é linear e que avançamos em algumas áreas e regredimos em outras, vamos ver se o saldo da história dos sapiens é positivo.
P.S.: O editor acabou de me alertar que Felipe Neto fez vídeo falando sobre a leitura dos clássicos na escola. Não sabia, mas concordo com o youtuber.
Eu gosto muito de ler sobre as ciências sociais em geral, especialmente direito (meio óbvio, né?), história, sociologia e ciência política.
Tudo isso está presente – junto e misturado – neste livro. Não tinha como dar errado.
A obra trata da saúde pública no Brasil desde suas origens, ainda no final do império. Explica a sua evolução e os contextos sanitários, sociais, econômicos e políticos pelos quais ela passou e foi se consolidando em nosso país como ciência, como política pública e como direito. Aborda a construção do SUS a partir dos seus primórdios, bem antes de ser institucionalizado. Explica como ele foi lapidado pelos cenários políticos e sociais de cada momento e como reflete diretamente a evolução da democracia brasileira. Com base em todo esse retrospecto histórico, traça perspectivas para o futuro, críticas e apontamentos de virtudes do sistema de saúde que hoje temos.
Ainda estou no meio da leitura, mas adorando o que já li, principalmente os textos que tratam da parte histórica da saúde pública e do SUS.
Sobre Gatos de Doris Lessing. Aos 88 anos, foi a mulher mais idosa a receber o prêmio Nobel, em 2007. A escritora britânica nasceu na Pérsia (atual Irã), e dos 6 aos 30 anos viveu na Rodésia do Sul (atual Zimbábue).
O livro é autobiográfico, ou melhor, mais uma biografia dos gatos com os quais conviveu. Ao contrário do que possa parecer, acaba sendo angustiante para quem gosta de felinos, especialmente na primeira parte em que o controle de natalidade dos gatos em uma fazenda na África era um tanto cruel, visto aos olhos de hoje.
Não espere um livro tão comovente sobre gatos, mas um grande livro, sem sentimentalismo e com uma narrativa fluente. Me fez querer conhecer mais da obra da autora.

A recente leitura noturna do Martin ensina que a bruxa querida, que dá carona para vários animaizinhos em sua vassoura voadora, será eventualmente recompensada: quando precisa combater um dragão que vai devorá-la, será salva pelos caroneiros peludos. Lição para toda a vida, e ilustrações bem bonitas.
O livro do Barroso é leve e enriquecedor. Mistura algumas notas biográficas com pinceladas sobre as grandes questões da atualidade, com remissões bibliográficas da melhor qualidade. Sempre orgulhoso do nosso Steven Pinker do STF.
Por fim, o romance histórico de Antonio Scuratti sobre a ascensão de Mussolini ao poder na Itália é um “page turner” e tanto. Ensina como o discurso do “nós versus eles” sempre terá apelo na história humana e como a omissão das instituições e da política conduzem a sua perdição, e de vez em quando aparece uma frase para guardarmos para citações futuras: “é com esse material de baixa qualidade -essa humanidade de demolição- que se faz a história” . Tudo em volta a personagens fascinantes: só os relatos dos feitos de Gabriele D’Annunzio, o poeta-político-herói-de-guerra-sex-addicted, que conquistou e fundou uma república e produziu uma constituição de vanguarda em 1920, já justificam a leitura.
As vinhas da ira (John Steinbeck)
Escrito em 1939, retrata o drama dos trabalhadores do campo após a grande depressão de 29, com foco especial na família Joad que sai de Oaklahoma junto com tantas outras em busca de trabalho na Califórnia, após ser expulsa da fazenda que arrendava.
Para escrever a obra, John Steinbeck acompanhou por dois anos um grupo desses migrantes, de acampamento em acampamento rumo à Califórnia. A obra gerou grande polêmica à época do lançamento, o escritor chegou a ser investigado pelo FBI, houve uma tentativa de banir o livro das bibliotecas americanas por parte de um deputado, que alegava que o livro era uma mentira e em algumas cidades o livro foi queimado…no fim das contas, ganhou o Pulitzer e versão para o cinema. Só isso já bastaria para indicar sua leitura.
Conta a saga dos ”Okies” em sua migração mas reflete a condição de todos os refugiados do mundo, a busca da terra prometida…uma obra com valor social, ético e político, sem perder a poesia.
É um livro marcante.