Dersu Uzala (デルス·ウザーラ, 1975)

Dersu Uzala
Sobre a amizade

Após alguns fracassos de bilheteria, que o levaram a tentar o suicídio em 1971, Kurosawa foi contratado pelo estúdio soviético Mosfilm para filmar Dersu Uzala (interpretado por Maxim Munzuk), obra baseada em livro autobiográfico do explorador russo Vladimir Arseniev (Juri Mefodjewitsch Solomin, ator russo).

Dersu Uzala

Trata da história do experiente caçador do povo Goldi que forma laços de amizade com um capitão do exército russo realizando a cartografia de inexploradas terras do Sibéria em 1902. Baseada em fatos reais, a história retrata o processo de conhecimento entre dois personagens extremamente diferentes que vão construindo laços de amizade.

Filmado todo em russo, as cenas evocam as dificuldades geracionais, a solidão, a velhice e a luta da civilização contra a natureza, seja nos cenários de neve ou de floresta que proporcionaram a Dersu Uzala (em japonês: デルス·ウザーラ, transl. Derusu Uzaara; em russo: Дерсу Узала 1975), obra prima de Akira Kurosawa, o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Durante um ano e meio o diretor utilizou as inóspitas locações do leste soviético para compor uma obra poética, das relações de amizade e lealdade, diante das adversidades do mundo. A cena de Dersu pedindo ao capitão para deixar mantimentos em uma cabana vazia e consertar o telhado dessa, para possibilitar a sobrevivência de quem eventualmente se abrigasse ali e necessitasse disso é sublime, pontuando o caráter de alguém que não se descura de ajudar alguém, mesmo sem saber quem.

A tristeza de suas perdas, de sua família, de uma morada, parecem não impedir um espírito de solidariedade, ausente nos nossos tempos de polarização e ódio gratuito, que contempla os russos como companheiros e a natureza, onde o “fogo amedronta” e o “céu fala”, como motivo para seguir a caminhada.

Dersu

A relação afetuosa de Arseniev e Dersu torna o filme obrigatório para conhecer o fenômeno humano da amizade, respeito e fraternidade, e o relacionamento do caçador etnia Heznen (Nanai) com a natureza, de admiração e cautela, tornam a obra essencial para os jovens estudantes entenderem o significado do meio ambiente e do futuro da humanidade.

Um filme que faz, realmente, uma varredura da humanidade, sem invisibilizar os pequenos gestos ou a grandiosidade da natureza. A música composta por Isaac Schwartz e a direção de fotografia, magnífica, é de Fyodor Dobronravov, Yuri Gantman e Asakazu Nakai, esse último indicado ao Oscar de melhor fotografia por Ran, outra masterpiece de Kurosawa, baseada em Rei Lear de Shakespeare.

Disponível no Belas Artes à la carte.

Por Marcelo Beckhausen1Marcelo Beckhausen é Procurador Regional da República na PRR4, professor de Direito Constitucional na Unisinos

image_pdf

Mais Chazinhos

Compartilhe:

Subscribe
Notify of

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments