Aproveitando o nosso amor pelos livros resolvemos compartilhar, na última quarta-feira de cada mês, os livros que adquirimos (sim, temos nosso próprio book haul).
Não são necessariamente indicações, mas livros que, por alguma razão, entendemos que deveriam estar em nossa biblioteca pessoal.
As Benevolentes, porque Compadre Quelemém indicou.
O Verdadeiro Criador de Tudo, porque já tinha lido no Kindle, mas queria o livro físico autografado.
As Teorias Selvagens, porque foi escrito por uma mulher e porque me falaram que a Pola é muito inteligente.
Já que a humanidade, definitivamente, não aprende com os próprios erros, a ideia é que com a leitura do livro ao menos eu não repita os erros dos outros (meus próprios erros, eu espero que já conheça e me esforço para não os repetir).
“Afirma Pereira”, de Antonio Tabucchi. Sempre tive curiosidade por esse livro – a história se passa durante o regime salazarista em Portugal – e tem sido uma agradável leitura. O protagonista, Pereira, certamente afirmaria que é um ótimo livro.
O livro da Abdel Aziz, uma psiquiatra e escritora egípcia, é daquelas surpresas que se encontra passeando em uma livraria. “A Fila” tem aquele clima meio Orwell, meio Kafka. Uma frase sobre o livro na contracapa define bem: “Um retrato impressionante de uma autoridade que reivindica todo o poder, renuncia toda a responsabilidade e força seu povo a repetir inverdades e abraçar sua própria opressão”, por uma fração de segundos, me fez confundir ficção e realidade.
O livro sobre falácias porque achei que faria Martin dormir rápido e pensar melhor. Mas acho que é muito cedo pra ele, mesmo com as ilustrações.
O livro da patrulha canina para compensar a compra errada e porque ele é enlouquecido pelos filhotes.
E o Malignant porque o Vinay Prasad (sigam no twitter @VPrasadMDMPH) é alguém que põe o dedo na ferida da big pharma como ninguém; quem trabalha com judicialização da saúde tem que saber que muitos dos medicamentos que deferimos tem um valor terapêutico discutível e um preço astronômico, e que os reguladores não estão fazendo um bom trabalho.
“O sol é para todos” (Harper Lee)
Para lembrar da atualidade e urgência de temas como segregacionismo, preconceito e a intolerância e para não esquecer que “é pecado ‘to kill a Mockingbird’”. Escrito em 1960, tem como título original “To kill a mockingbird”. “É pecado matar um mockingbird” (rouxinol, cotovia, sem tradução exata para o português) é uma frase de Atticus, pai da protagonista Scout, como uma advertência a Scout e Jem ao lhes entregar espingardas de pressão, dizendo que preferia que atirassem em latas no quintal, mas que sabia que iriam atrás dos passarinhos, então, não poderiam matar um mockingbird. Curiosa, Scout comenta com Maudie, pois nunca havia ouvido seu pai falar que algo era pecado, Maudie então explica que o mockingbird não faz nada além de cantar, não destrói jardins e não faz ninhos nos milharais, ele só canta, por isso é pecado matar um mockingbird. É um pecado atingir algo que não te fez mal algum. A referência ao título volta ao final do livro, em uma frase de Scout… deixo a curiosidade e a interpretação para quem quiser ler. Penso que o título original é de uma sensibilidade enorme e totalmente conectado com o texto, mais do que o título da tradução brasileira.
“As cidades invisíveis” (Italo Calvino)
Ítalo Calvino teria dito que esse foi o livro no qual disse mais coisas, talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as suas reflexões, experiências e conjeturas. Quando li, foi por indicação de uma pessoa importante na minha vida, que me apresentou uma das cidades de Calvino, Isidora. Me disse para ler aos poucos, uma cidade de cada vez. Assim o fiz. Posso dizer que cada uma delas nos traz alguma sensação de reconhecimento ou pertencimento. É um livro para reler de tempos em tempos, até porque dependendo do astral que estamos as impressões são diferentes. Em alguns momentos, lemos e tudo aquilo parece uma mera descrição, em outros a beleza de todas as metáforas prescinde qualquer explicação e a experiência de sentimentos simplesmente flui.
“O amor nos tempos do cólera” (Gabriel García Márquez)
Relendo porque o momento atual tem tudo de cólera e de realismo fantástico. O livro fala não só de um caso de amor que “demorou” cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias, que encontrou inúmeros obstáculos, mas nunca desanimou. Fala na verdade de um amor que não deixou de ser vivido durante todo aquele tempo de espera. Mas fala de mais do que isso, fala de amores (no plural), memórias, espera, resiliência, persistência, amadurecimento e aprendizado. Fala de viver. Denso e ao mesmo tempo leve. Vale muito a leitura.
“Terra sonâmbula” (Mia Couto)
O livro da foto foi emprestado pela Carol minha amiga do coração, companheira neste blog e quem eu admiro muito. Adoro Mia Couto, leio tudo que me cai nas mãos. Também tem muito de realismo fantástico, como Gabriel García Márquez. Muita crítica social e política, personagens complexos, elementos culturais fortes.